Desconto do IPI faz efeito e vendas no comércio crescem mais que o previsto
Crescimento de 1,5% é o maior desde janeiro e aumenta a confiança dos investidores na reação da economia, ajudando na alta de 2,16% na Bolsa
O comércio varejista apresentou em junho o primeiro efeito positivo da decisão do governo de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de automóveis e eletrodomésticos de linha branca (geladeira, fogão emáquina de lavar, principalmente). As vendas cresceram 1,5% na passagem do mês, maior alta desde janeiro (3,1%), após a queda de 0,8% no mês anterior.
O resultado veio acima do previsto pelos analistas financeiros, aumentou a confiança no início derecuperaçãodaeconomiabrasileira e ajudou a Bolsa de São Paulo a subir 2,16%. Apesar do otimismo dos investidores, os economistas ainda têm dúvidas se a produção começou a reagir.
No ano, o faturamento do comércio avançou 9,1%; em12 meses, 7,5%, mostrou a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE. “As medidas de incentivo do governo demonstraram, neste momento, ter alcançado o resultado esperado. Agora temos de aguardar para ver se a aceleração será mantida”, afirmou Reinaldo Pereira, gerente da pesquisa.
Para o estrategista-chefe do Banco WestLB no Brasil, Luciano Rostagno, o crescimento do comércio em junho rechaça a tese de esgotamento da capacidade do brasileiro de continuar consumindo. “O PIB do segundo trimestre deve ter um desempenho melhor mesmo com o enfraquecimento da indústria.”
A alta inesperada das vendas do varejo indica que a economia começou a pegar ritmo no fim do segundo trimestre, mas o resultado não será suficiente para que o Produto Interno Bruto (PIB) avance 2% neste ano, comentou o economista da LCA, Paulo Neves. “Foram bem-sucedidas as medidas do governo para estimular o consumo no trimestre passado. Mesmo assim, o País deve avançar 1,8% neste ano e apresentar uma velocidade de expansão de 3,3% no último trimestre ante o mesmo período de 2011.”
De maio para junho, os consumidores reduziram as compras de equipamentos de informática e comunicação, para aproveitar os preços menores de carros e eletrodomésticos de linha branca. Isso explica a única queda na pesquisa do IBGE, de 8,9%, em equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação. E também asprincipais altas, dos grupos de veículos e motos, partes e peças (16,4%) e móveis e eletrodomésticos (5,3%).
A venda de aparelhos de informática e comunicação crescia desde abril. A retração neste momento, disse Pereira, está atrelada também a uma acomodação após altas sucessivas.
Além do IPI, o IBGE atribuiu o avanço do comércio ao bom desempenho de ocupação e renda, além da melhora no acesso ao crédito e da redução da taxa básica de juros. “Tivemos um crescimento praticamente generalizado nos dois tipos de comparação (maio 2012 e junho de 2011). Com exceção de um grupo, todas as atividades foram positivas, o que demonstra o vigor do comércio. Em junho, as variáveis econômicas atuaram de forma decisiva”, disse Pereira.
Apesar da percepção de que as medidas para estimular o consumo estão surtindo efeito, analistas acreditam que não haverá alteração napolítica do Banco Central de reduzir a Selic até 7,25%. “O governo tende a aguardar um pouco mais para se certificar de que o mercado consumidor estabilizou. Dificilmente, vai suspender a reduçãodo IPI ou o processo de queda dos juros”, aposta o vice-presidente da Franklin Templeton Investimento Brasil, Marco Freire. / COLABORARAM PATRÍCIA LARA e RICARDO LEOPOLDO
Fernanda Nunes
O Estado de S. Paulo
Fonte: tributario.net