Pagar sobrecarga de impostos para poder importar mais parece ilógico à primeira vista. Mas a equação da indústria automobilística revela que, às vezes, vale a pena pagar mais tributos para não perder vendas e, mais importante ainda, conseguir, assim, ampliar participação no mercado brasileiro, o quinto maior do mundo.
Nas últimas semanas, algumas montadoras preferiram pagar mais impostos pelos veículos que trouxeram além das cotas fixadas no acordo de livre comércio entre Brasil e México. Aproveitaram, assim, o aumento de demanda, provocada pela redução do IPI. Enquanto isso, despacharam seus melhores lobistas para Brasília na tentativa, ainda em curso, de amarrar um acordo para elevar os volumes das cotas
O déficit na balança comercial automotiva ajuda a entender a estratégia de empresas como a Nissan, que aproveitou o sucesso de novidades produzidas no México enquanto investe na expansão industrial no Brasil.
De janeiro a agosto, o volume de veículos da Nissan emplacados no Brasil – 80,1 mil unidades – superou o total de todo o ano passado (67,3 mil). Graças às vendas adicionais, puxadas, sobretudo pelo modelo compacto March, a fatia da marca em carros de passeio e comerciais leves aumentou 70%. Passou de 1,97% em 2011 para 3,35% nos oito primeiros meses de 2012. Recentemente, a empresa japonesa anunciou a meta de atingir pelo menos 5% de participação de mercado até 2014.
Com o reforço de vendas, a Nissan saiu do 12º lugar ao final de 2011 para 7º agora, atrás apenas de Renault e Honda, entre as mais novatas, que aparecem logo depois das quatro veteranas (Fiat, Volkswagen, GM e Ford). Importar do México à revelia de regras governamentais ajudou a Nissan a deixar para trás Hyundai, Toyota, Citroën, Peugeot e Kia.
Com cinco modelos mexicanos vendidos no Brasil, a Nissan é a montadora que mais importa daquele país. Mas o principal impulso veio mesmo com o lançamento do March, há um ano. O modelo, cuja versão mais simples custa R$ 25 mil com a redução do IPI, foi responsável por 6,69% das vendas na categoria do hatch pequeno, que concentra 32% do mercado de automóveis no país.
Nas últimas semanas, quando o setor iniciou as tentativas de negociar aumento de cotas de importados do México, o March sumiu do mercado. Não há previsão de chegada nas concessionárias e muitas lojas deixaram até de anotar pedidos.
Para argumentar a reivindicação de cotas maiores, a Nissan tem a seu favor a contrapartida do investimento de R$ 2,6 bilhões numa fábrica em Resende (RJ), a segunda da marca no país. Com previsão de começar a funcionar no primeiro semestre de 2014 e capacidade para 200 mil veículos por ano, da futura instalação sairão automóveis compactos, inclusive o March.
Outras grandes montadoras também têm interesse num novo acordo. A Honda, por exemplo, traz do México o utilitário CR-V. A Fiat substituiu a importação do modelo compacto 500 da Europa pela versão semelhante mexicana. A Volkswagen, que já importa o Jetta, pretende lançar a nova versão do compacto de luxo Beetle. Também a Ford traz o sedã Fusion e a General Motors participa das importações mexicanas com o utilitário Captiva. A Nissan pode até ser a mais interessada no aumento das cotas. Mas não é a única.
Por Marli Olmos | De São Paulo
Valor Econômico
Fonte: tributario.net