A inusitada peregrinação de industriais e trabalhadores passou ontem por Minas Gerais. Capital e trabalho estão unidos para reivindicar mudanças no que eles chamam de “eixo do mal” da conjuntura econômica brasileira: juros altos, câmbio desvalorizado e tributos excessivos.
A mobilização, batizada “Grito de Alerta – em defesa da produção e do emprego”, reuniu representantes da indústria brasileira e sindicalistas para debates no plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). As principais demandas são a valorização cambial, redução de juros e da carga tributária para um consequente aumento de competitividade dos produtos brasileiros, que estão perdendo espaço importante para os importados asiáticos.
O curioso é que a pauta de reclamações dos manifestantes, que já passaram por Brasília, Santa Cataria e Minas Gerais, e ainda seguem para o Pará, Pernambuco e Bahia, além de Rio de Janeiro e São Paulo, vai ao encontro do discurso do governo federal. Recentemente, a presidente Dilma Rousseff reclamou do “tsunami” de capital emitido pelos países europeus em crise e que migraria para o Brasil em busca de remuneração especulativa. Dilma também já declarou que pretende reduzir a carga tributária e tem adotado medidas para tentar conter a queda do dólar. Como governo, trabalhadores e empresários parecem rezar a mesma cartilha, foi eleito um inimigo comum: a China e sua produção absurdamente barata e a entrada de capital especulativo – que causa impactos nas taxas de câmbio.
“Quando pega fogo na floresta, o leão e a zebra deixam de ser inimigos e vão se proteger no lago. E está pegando fogo na floresta”, compara o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, para explicar a união histórica entre empregados e empregadores. O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Aílton Ricaldoni Lobo, diz que a união com os trabalhadores não apaga divergências históricas, mas une campos opostos contra um mesmo mal. “A gente sabe que são setores que não se dão bem (patrões e empregados), mas que sabem que precisam unir forças”, diz.
O presidente da Federação das Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado Júnior, elogiou as medidas de proteção à indústria nacional apresentadas pelo governo federal. “Apesar de serem medidas paliativas, que ajudam, mas não resolvem o problema, elas estão na direção certa”.
Efeitos. Luiz Aubert Neto cita números do balanço da Abimaq para balizar as reivindicações. Segundo balanço mais recente divulgado em março pela instituição, o setor de bens de capital vem apresentando sinais claros de desindustrialização. Ele diz que hoje 60% do faturamento anual de R$ 81 bilhões vem com a venda de importados. Outro indicador é o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) do setor, atualmente em 72% – o pior nível desde a década de 1990.
Fonte: O Tempo
Escrito por: Pedro Grossi