Simulações mostraram que ágio a ser pago por aeroportos não permitiria amortizar investimento até fim da concessão

Para desistente, seria necessário abrir mão de lucro para cobrir proposta vencedora do terminal de Guarulhos

As maiores construtoras do país -que participaram do leilão em parceria com operadores dos melhores aeroportos do mundo- desistiram da disputa.

Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão nem chegaram a fazer proposta no viva-voz, após o lance inicial.

A Folha apurou que elas consideraram o ágio elevado demais para garantir retorno sobre o investimento no prazo da concessão.

Para Guarulhos, vendido por R$ 16,2 bilhões, elas chegariam a, no máximo, R$ 10 bilhões com chance de retorno sobre o investimento.

Um dos desistentes afirmou à Folha que, pelas simulações, teria de abrir mão de lucros para cobrir a proposta vencedora em Guarulhos.

Ainda segundo ele, com a receita obtida, daria para pagar impostos, no máximo.

Outra evidência dessa suposta distorção foi a relação entre o valor a ser pago pela outorga ao longo dos anos e a receita do aeroporto.

Em 2011, a receita bruta de Guarulhos foi de R$ 1 bilhão. Somente para pagar a concessão, durante o prazo de 20 anos, o consórcio vencedor desembolsará, em média, R$ 810 milhões por ano.

Isso sem contar o pagamento de impostos, encargos, os custos operacionais e os investimentos que terão de ser feitos ao longo dos anos.

Em Brasília, o vencedor (consórcio Inframérica) pagará, em média, R$ 180 milhões por ano até 2037. Em 2010, a receita bruta do aeroporto foi de R$ 200 milhões.

Para o aeroporto internacional de Campinas, que teve ágio de 159%, o consórcio vencedor (Aeroportos Brasil) pagará R$ 127,4 milhões por ano, em média, até 2042. Em 2011, a receita bruta foi de R$ 300 milhões.

SUPERAVIT

O governo não só se surpreendeu com o resultado do leilão dos aeroportos como já prevê arrecadar no início do ano que vem pelo menos R$ 1,3 bilhão com as concessões. Os recursos contribuirão para engordar o superavit primário de 2013.

Com a concessão, o governo passou a garantir receita extra de, ao menos, R$ 1 bilhão por 20 a 30 anos.

A presidente Dilma Rousseff celebrou o resultado. No ano passado, ela fora informada pela sua equipe de que o valor estimado da concessão dos três aeroportos ficaria em torno de R$ 10 bilhões.

(JULIO WIZIACK, MARIANA BARBOSA, DIMMI AMORA, NATUZA NERY E SHEILA D’AMORIM)

Folha de São Paulo